Neste episódio, conversamos com a Tatiane que mora nos EUA. Ela tem dois filhos e utiliza o Português para se comunicar com eles, enquanto o pai e a família paterna utilizam o inglês.
Reunião do grupo de pesquisa toda sexta-feira, das 14h às 17h
O projeto de cooperação internacional “Linguagem na infância e subjetividade: fala e escrita em contexto de aquisição e ensino/aprendizagem”, insere-se em um projeto mais amplo, o Projeto “Linguagens e produção de conhecimento, CAPES-PRINT/UNESP (coord. Prof. Dr. Jean Cristtus Portela) e tem um caráter interdisciplinar, reunindo pesquisadores nacionais e estrangeiros com vasta experiência em Aquisição de Língua Materna e Estrangeira, bem como em Estudos do Discurso e Letramentos. Pretende-se, a partir dele, trazer contribuições para a área da Linguística, além de diversas outras áreas que se interessam pelo tema, como a Educação, a Fonoaudiologia, a Psicologia, entre outras.
Em tempos onde a formação inicial da criança ganha os holofotes da sociedade pela reconhecida importância dessa fase na constituição do sujeito/cidadão, um estudo que olha para a sua linguagem, em seus diferentes aspectos durante o processo de aquisição da linguagem, abre caminhos para que se pense também a educação infantil (ensino e aprendizagem) e sua relação com os aspectos sócio-culturais, históricos e inter-subjetivos.
Nosso objetivo é dar foco ao estudo de aspectos relativos à identidade e subjetividade de crianças de 0 a 10 anos de idade, buscando refletir sobre a constituição da criança/sujeito em atividades linguageiras que envolvem a aquisição do humor e desenvolvimento do riso na criança, o bilinguismo e multilinguismo, a aquisição/aprendizagem de segunda língua em contexto familiar e escolar, a aquisição das expressões referenciais, a relação do sujeito com a escrita, a aquisição das primeiras unidades linguísticas e a primeira sintaxe, a aquisição da negação e multimodalidade, o papel das cantigas de ninar na aquisição da linguagem e a relação entre prosódia e aquisição das primeiras unidades linguísticas e a primeira sintaxe. Outro desafio é relacionar esses aspectos com as questões de ensino/aprendizagem de língua em situação familiar e/ou escolar, contribuindo, assim, também para áreas que dialogam com a Linguística.
O projeto adota uma abordagem inter/multi-língua, descrevendo esses processos linguageiros em crianças monolíngues falantes do Português do Brasil (PB), do Francês, e crianças bilíngues/multilíngues, falantes do PB/Francês/inglês. Ele se baseia, portanto, na exploração de grandes conjuntos de dados, em sua maioria longitudinais e naturalísticos, coletados pelos grupos NALingua, COLAJE e PRAXILING. A proposta é olhar para esses dados considerando o que os sujeitos e as comunidades têm de específico, de singular, de diferente, possibilitando que se caminhe para uma generalização não a partir do quantitativo, mas de aspectos qualitativos. Assim, as diferenças colocam nossas hipóteses à prova: se uma teoria funciona mesmo nas diferenças, então ela pode ser validada.
A história de parcerias entre o grupo de pesquisa GEALin/NALíngua e grupos de pesquisa internacionais vem sendo construída desde 2008/2009.
Inicialmente, com a realização de um estágio pós-doutoral da Coordenadora do grupo, Prof. Dra. Alessandra Del Ré, em Paris/França, as relações de cooperação começaram a se fortalecer sobretudo com três instituições estrangeiras: Université Paul Valéry (Montpellier 3), Université Sorbonne Nouvelle (Paris 3) e Université René Descartes (Paris 5). Com cada uma delas, diferentes aspectos da linguagem da criança ganharam foco nas pesquisas que o grupo vem desenvolvendo. Além disso, consolidou-se uma abordagem teórica ainda pouco desenvolvida, sobretudo no Brasil: a perspectiva dialógica-discursiva, com base nos trabalhos de Bakhtin e do Círculo. Nesse sentido, o trabalho conjunto com a Profa. Anne Salazar Orvig tem sido fundamental para se pensar aspectos como o papel do sujeito dentro desse processo de aquisição/aprendizagem e ensino, gêneros do discurso, entre outros.
A partir de então, uma colaboração de pesquisa e ensino tem sido estabelecida entre Montpellier 3 e o PPGLLP-FCLAr/UNESP, em especial entre os grupos de pesquisa COLAJE e GEALIN (FCLAr)/NALingua (CNPq). Essa colaboração resultou na assinatura de um acordo entre as duas Universidades em 2012, atualmente em processo de renovação.
Essa aproximação tem resultado em muitos intercâmbios, tanto de docentes quanto de alunos em nível de IC, mestrado e doutorado, com financiamento do Brasil e da França. Dentre as inúmeras atividades conjuntas que envolvem participação como professor visitante (na França e no Brasil), em bancas, publicações, participação conjunta em congressos etc., há de se destacar,
A popularização da pesquisa científica tem sido um desafio. Nesse sentido, as parcerias Brasil/França têm sido produtivas, propondo ações que sejam capazes de levar o conhecimento desenvolvido na academia para um grande público de pais, professores, pesquisadores, profissionais da saúde, entre outros. Assim, foi planejada e desenvolvida a Exposição Itinerante Bilíngue “A criança na língua: passo a passo/ L’enfant dans la langue: pas à pas”, com curadoria de Alessandra Del Ré e Christelle Dodane. A exposição é resultado de uma parceria entre o grupo NALíngua-CNPq, o laboratório PRAXILING (Montpellier 3) e o Consulado da França em São Paulo (Edital Cátedras Franco-Brasileiras). A exposição apresenta as diferentes fases da aquisição da linguagem, convidando o público a descobrir o percurso linguístico das crianças, desde suas primeiras vocalizações até suas primeiras frases, seguindo, passo a passo, o processo de aquisição da linguagem. Ela já foi realizada tanto no Brasil quanto na França e em 2018, graças a um projeto de extensão (UNESP), essa exposição tornou-se permanente e hoje ocupa uma sala no Centro de Ciências de Araraquara (CCA), recebendo alunos e professores de nível fundamental e médio, de escolas públicas – sobretudo – mas também particulares.
- Coordenadora: Profa. Dra. Alessandra Del Ré (UNESP)
- Profa. Dra. Marina Célia Mendonça (UNESP)
- Profa. Dra. Cristina Martins Fargetti (UNESP)
- Profa. Dra. Gladis Massini-Cagliari (UNESP)
- Profa. Dra. Luciane de Paula (UNESP)
- Profa. Dra. Nildicéia Aparecida Rocha (UNESP)
- Profa. Dra. Renata Marchezan (UNESP)
- Rosângela Nogarini Hilário (UNESP)
- Alessandra Jacqueline Vieira (UFRGS)
- Márcia Romero (UNIFESP)
- Suzana Rosa de Almeida (UFBA)
- Angelina Nunes de Vasconcelos (UFAL)
- Eliza Maria Barbosa (UNESP)
- Profa. Dra. Anne Salazar Orvig (Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3)
- Profa. Dra. Aliyah Morgenstern (Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3)
- Profa. Dra. Malory Leclère (Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3)
- Profa. Dra. Violaine Bigot (Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3)
- Profa. Dra. Marie Leroy-Collombel (Université René Descartes – Paris 5)
- Profa. Dra. Christelle Dodane (Université Paul Valéry – Montpellier 3)
- Prof. Dr. Fabrice Hirsch (Université Paul Valéry – Montpellier 3)
- Prof. Dr. Sascha Diwersy (Université Paul Valéry – Montpellier 3)
- Dra. Caroline Buffoni
- Pierre-Olivier Gaumin
- Dra. Patrícia Falasca (Brandenburgische Technische Universität Cottbus-Senftenberg – BTU, Fakultät für Soziale Arbeit, Cottbus, Brandenburg, Alemanha);
- Profa. Dra. Juliane Noack Napole (Brandenburgische Technische Universität Cottbus-Senftenberg – BTU, Fakultät für Soziale Arbeit, Cottbus, Brandenburg, Alemanha)
- Prof. Dr. Anthony J. Wall (University of Calgary / Canadá)
Os resultados obtidos em pesquisas anteriores parecem corroborar a hipótese de um aparecimento precoce da produção humorística (Del Ré, 2011a, 2011b; Del Ré, Morgenstern, 2010, Del Ré et al, 2014b, 2015) e pretendemos verificá-la de forma mais sistemática em crianças de 1;8 a 4 anos, identificando os ingredientes que compõem um percurso que vai de um divertimento compartilhado à produção de enunciados humorísticos. Trata-se de levantar elementos linguístico-discursivos que deem conta de explicitar esse processo, entre eles, exploraremos a questão da intencionalidade (Tomasello, 2003), da incongruência que causa ruptura no discurso, dos índices não-verbais que explicitam a conivência entre os participantes (olhar, por exemplo), o riso que partilha uma situação humorística etc. Acreditamos que, a partir de um conjunto de elementos, seja possível chegar-se a uma definição do que seria o humor na linguagem da criança. O corpus a partir do qual este projeto será desenvolvido é composto por dados de fala de duas crianças brasileiras (Gu. e So., de 1;8 a 4 anos) registrados em situações naturalísticas e transcritos com base nas normas CHAT, do programa CLAN, da base de dados CHILDES (MACWHINNEY, 2000).
Ainda pouco explorado no Brasil, os estudos sobre aquisição de segunda língua, sobre bilinguismo vêm ganhando notoriedade graças a um panorama bastante diversificado que está se compondo: crianças de famílias bolivianas, coreanas etc. nascendo e/ou se instalando no Brasil e matriculadas em escolas públicas brasileiras (Pimentel e Tami, 2015); crianças de regiões fronteiriças com o Uruguai, Paraguai etc. que frequentam escolas brasileiras (Hernaiz, 2007); crianças estrangeiras e/ou brasileiras, filhas de pais estrangeiros morando no Brasil – pelo menos um deles é estrangeiro –, que frequentam escolas bilíngues (americana, francesa etc.); crianças brasileiras, filhas de pais brasileiros, que querem proporcionar a seus filhos uma educação que envolva diversas culturas e possa torná-los cidadãos globais e, portanto, criaram um outro tipo de demanda de escola bilíngue (Mattos, 2013; Perri, 2013). Além dessas situações, há de se considerar igualmente as crianças cujos pais falam línguas diferentes; a língua que é falada no local onde a criança mora é diferente daquela dos pais; as línguas de herança, bilinguismo em crianças surdas, entre outras situações. Diante desse panorama, interessa-nos, neste projeto de pesquisa, desvendar como a criança vai lidar com a(s) língua(s) nessas diferentes situações.